terça-feira, 25 de novembro de 2008

caminho do som – sertanejo

Já há dois meses em cartaz com o Homem Cavalo & Sociedade Anônima e algumas coisas começam a tomar forma mais definida. É... só agora mesmo, porque isso que a gente faz se constrói de encontros diários.

Estávamos conversando, eu, Nei e Osvaldinho, sobre a dimensão do simbólico, e uma outra coisa, a qual nomeávamos intuição, no trabalho de criação desta peça. Me veio o processo da música Saudade – ou Sertanejo, como a apelidamos.

Num primeiro momento, experimentamos um treinamento, proposto por Nei, com algumas músicas de forte apelo junto aos acolhidos no Arsenal, de ampla repercussão nas rádios.

Tô num celular, falando de um bar... Vai locutor, diz que eu sou completamente apaixonado... Que tem um cara aqui, louco de saudade, cheio de desejo... Vai, vai levando o que for seu... do nosso amor nada valeu... Se aquele amor que jurava, era da boca pra fora.

Era praticamente um exercício de melodrama...

Daí veio a Andressa e me “encomendou” uma música sertaneja mais próxima de “coisas de raiz”, como Tonico e Tinoco.

Fiz então a tal Saudade, e a estudamos abrindo vozes (no famoso intervalo de terças sertanejas). A letra feita de clichês do cancioneiro sertanejo. O ritmo: uma rancheira.

Eis que tal música tomou proporções inimaginadas. Contextualizada com o trabalho rural e com o êxodo para a cidade em busca de trabalho – graças à sensibilidade da Andressa – esta música virou uma espécie de Hit dentro do Arsenal, com acolhidos cantando junto conosco durante a peça e, um sem número de vezes, nos pedindo a letra por escrito. E o João Campos, do MST, que fez uma ponte entre esta cena/canção e a nossa desconexão e descompasso com a natureza. Tudo isso potencializado pela cena do pai distante de casa já há tanto tempo, feita pelo Nei.

Acho que isso se faz de um reconhecimento sensível que nos permeia quando estamos abertos ao coletivo. Com essa somatória de observação e interlocução com o espaço. Com esta rede de intuições. Com a percepção concreta desta realidade.

Gostaria de dividir isso. E a letra da música também. Para que você pense conosco.



SAUDADE

No quintal da minha casa
Passa um riacho que vira rio
A água que nele corre
Deságua no mar bravio
Saudade, bonita, saudade
Do meu bem que já partiu

No riacho cristalino
A água segue em frente
Correndo feito o destino
Lava o coração da gente
Saudade, morena, saudade
Do meu bem que está ausente



Molhando todo o meu rosto
Eu renovo a esperança
A água do rio tem gosto
De você na minha lembrança
Saudade, cabocla, saudade
Do meu bem, saudade mansa

Ah, rio doce
Carrega minha amargura
Essas águas vão embora
E só voltam feito chuva
O meu bem ganhou estrada
Um dia volta, saudade dura

Osvaldo Hortencio

Um comentário:

Adriana Balsanelli disse...

essa música é linda!
como todas as outras...
beijo,
Adriana