quinta-feira, 26 de junho de 2008

uns que dizem

Textos de parceiros, acolhidos, ex-acolhidos e amigos. Vagando pé-pós-pé! Palavra-com-palavra.
Estes serão publicados no fazine do projeto (TERRITÓRIO1) que chega já-já.


TEM GENTE COM PRESSA - Joel e José Nilson

Trem sujo do Brás

Correndo, correndo

Tem gente com pressa

Tem gente com pressa

Piiiiiiiiiii

Estação da Luz

De novo a dizer

De novo a correr

Tem gente com pressa

Tem gente com pressa

Brás Tatuapé Itaquera Guaianazes

Trem sujo do Brás

Correndo, correndo

Parece dizer

Tem gente com pressa

Tem gente com pressa

Mas o freio de ar

Todo autoritário

Manda o trem calar

Psiiiiiiu!

UTOPIA - Sidney Nunes

O sol estava ameno dando a todos uma sensação de leveza no ar. Joana e Eliza preparavam a bóia; Carmem cuidava da água; Sandra cuidava da louça; Geremias escolhia o feijão; Marcelino picava os legumes; Cristiano cortava o frango; João misturava o cimento; Josias trazia a areia; Lindolfo carregava os tijolos; Matias e Pedro abriam a terra pra colocar os ferros da fundação; outros levantavam paredes; e assim iam subindo as casas.


Nos fundos de cada uma delas havia um descampado comunitário, cercado de flores. Juliana, Maria, Paula e Janice nos buracos feitos por Carla, esparramavam sementes. Viviam todos felizes.


As crianças pulavam corda, cantavam, jogavam bola e outros empinavam pipas. Em um canto, livros, lápis e cadernos de escola.


Dali alguns meses quando chegasse a colheita, viriam todos os parentes e amigos para encher de alimento seus lares. Com espigas de milho, muitos grãos de arroz, sacos e sacos de feijão preto, legumes de todos os tipos, verduras e frutas. A fartura prometia; assim como a alegria da vida pulsando; fluindo; com as mães ninando e aleitando crianças.


Os homens na venda entre uma cachaça; um trago no bom cigarro de palha; contavam seus causos; sem cobiça nos olhos. Viviam todos satisfeitos; pois havia pra eles... pão, terra e liberdade.

DEVORADOR - Gerson de Paula

Quando percebeu que a estrada lhe pertencia, fez as malas e seguiu vida a fora. Nunca mais teve parada. Na cabeça infinitas histórias, uma mala nunca desfeita e a estrada por todo o sempre devorada.

ROSTO - Roberto

Rosto, rosto meu. Quando te vejo ao mesmo tempo vejo eu.

canções para desninar 1158 pessoas


AS FALTAS

O que me empurra pro trecho não é meu bem

Nem o desejo livre de uma aventura

O me que faz garrar a andar é a falta

É a falta

É a falta

E é a falta.





TETO

Um teto ruído

Agora céu aberto

Um dia de sereno e vento

O chão não mais caber

O dia de se acostumar

Com o medo de morrer

O dia de correr

Da polícia, do ladrão

O dia de ser mais não

O dia de casa sem TV

O dia de deixar de ser este talvez

O que você não vê

E não ter mais onde não ter

Não ter mais onde, não ter mais

Onde não ter.

Porque...

Um teto ruído

Agora céu aberto

Chão batido

Pés descalços

Mas um vaso de flor

terça-feira, 24 de junho de 2008

em direção


Essa é a nossa nova trajetória. Esse é o nosso primeiro espetáculo feito exclusivamente por nossas mãos. Mãos de trabalhadores que observam transformações importantíssimas não só na profissão como na vida também. Esse processo fez a Cia. Estável se recolher para construir.

Antes os "os meninos de Cangaíba" e hoje pessoas que conseguem ampliar os horizontes e quebrar as paredes de suas casas pequeno-burguesas e partir para a luta. Uma luta poética, de criatividade, de construção coletiva que não perde o seu potencial de luta (no sentido mais bruto da palavra).

Muitas vezes perdidos, por observar o tamanho do buraco que temos abaixo dos nossos pés calçados, tememos pelo que está por vir. Peças do jogo caíram, fichas também. É uma nova fase para os integrantes.

A vivência dentro dessa casa Arsenal serviu para o amadurecimento dos estáveis. Neste momento, dirigir a companhia torna-se um tremendo desafio. Muitas idéias, criações, jogos, poesia e música, mas também muitas dúvidas e medos. Nos propomos a construir um texto que é o mais desafiador para a Cia. Estável.

Agora, não nos preocupamos com o resultado, se vai ser bom ou ruim, mas sim se conseguirá abarcar todas as nossas discussões/debates, noites em claro, observações e desassossegos. Já passamos pelo religioso, nos deparamos todos os dias com a animalização do homem, já abandonamos estruturas e mais estruturas e dentro disso nos enxergamos, estamos no mesmo barco.

Como diretora, não pretendo trazer soluções, mas descobri-las com o coletivo, sou apenas um olhar de fora.

Andressa Ferrarezi
Diretora do novo espetáculo

o que será?



Aqui é nosso vagar, é nossa dúvida, é nossa busca por território e por compreensão sobre as rotas que traçamos.

Se queríamos saber o que é preciso, formulamos perguntas que vão se respondendo nas atividades dentro da casa.

Agora somos experimentação, interlocução, e observação. Abertos para que haja o choque de opiniões, conceitos, oportunidades, de classe, fora e dentro da companhia, dentro e fora da casa, de onde saem novas idéias e novos territórios, que serão o material para a criação artística.

Nos reconhecer vagando em regiões regidas por leis não geográficas nos coloca em questionamento sobre nossa função artística e política, não só nesta casa como nas outras casas, imateriais, que construímos por aí.

Olhar para frente agora significa pensar como agigantar estas áreas de sobreposição e debate, para que a construção do próximo espetáculo se embebede desta experiência e este resultado se expanda para além dos muros do Arsenal, nos fazendo continuar a perguntar, a vagar nas perguntas sobre o que é realmente preciso afinal de contas. Que as respostas venham em forma de arte, criação e reflexo do que vimos e vivemos.

O projeto, assim, será um espetáculo, que será uma pergunta, que será...


Osvaldo Hortencio