sexta-feira, 26 de julho de 2013

matéria do brasil de fato

O companheiro Eduardo escreveu uma linda matéria sobre a Cia. Estável para o jornal Brasil de Fato:


Cia. Estável completa 12 anos de teatro e coletivismo radical
2013 - 16:13 — Michelle


Amadurecido por mais de uma década de luta, grupo trabalha com outros coletivos artísticos para debate e luta por políticas públicas, além de somar-se às diversas lutas do teatro de grupo paulista

02/07/2013
Eduardo Campos Lima
de São Paulo (SP)

A Companhia Estável de Teatro completa, em 2013, 12 anos de pesquisa sobre formas políticas de teatro e de buscas por um trabalho radicalmente coletivo, procurando espelhar na organização interna do grupo a crítica contra-hegemônica formulada em cena.
O coletivo tem suas origens na turma que se formou em 1997 na escola de teatro da Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Após um período vinculado à instituição, o grupo tornou-se autônomo e, em 2001, inscreveu-se no programa de ocupação de teatros distritais da prefeitura de São Paulo, sendo selecionado para se instalar no teatro Flávio Império, em Cangaíba.
Na fase inicial, a Cia. Estável fazia uma investigação da commedia dell’arte – forma teatral que se criou em feiras e mercados da Itália, baseada em personagens tipificados e roteiro simplificado (que pode variar a cada apresentação) e guarda parentesco com o teatro de rua e o circo. A linguagem cômica popular, marcante na peça Os Menestréis, consolidou-se como perspectiva de trabalho do grupo, sendo fundamental nas encenações seguintes, A Incrível Viagem, Flávio Império, Uma Celebração da Vida e Quem Casa Quer Casa.
O trabalho no teatro Flávio Império incluía oficinas de formação para adultos e crianças. Esse contato contínuo com a comunidade garantiu que o público voltasse a frequentar o espaço. “Quando começamos a ocupar o Flávio Império, era preciso convencer as pessoas da região a assistir, mesmo com apresentações gratuitas. Conseguimos reverter a situação muito rapidamente, com o trabalho continuado no entorno”, recorda a atriz Daniela Giampietro.
Os artistas precisaram usar parte dos recursos obtidos com o projeto para sanar os diversos problemas com a estrutura do teatro. “Não havia manutenção. Muitos assentos estavam quebrados e, quando chovia, partes do telhado caíam na plateia”, lembra a atriz Andressa Ferrarezi.
Em 2002, o grupo foi contemplado na primeira edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro. Em julho de 2004, estreia a peça O Auto do Circo, criada a partir da dramaturgia de Luís Alberto de Abreu e dos estudos da historiadora Ermínia Silva sobre a arte circense no Brasil.
Precariedade e marxismo
O ano de 2005 foi marcado por uma série de dificuldades. A trupe não conseguiu obter recursos e acabou deixando o espaço que ocupava. Ao longo do ano, os artistas mantiveram apresentações em outros teatros distritais.
No ano seguinte, o coletivo travou contato com o Arsenal da Esperança, espaço onde funcionava a Hospedaria dos Imigrantes e que, desde 1996, acolhe diariamente centenas de pessoas sem moradia. Acabaram se instalando lá, em uma lona armada dentro da área, o que acarretou profundas transformações em seu trabalho e em sua organização.
“Inicialmente, tentamos transpor para o Arsenal da Esperança nossa pesquisa sobre o nomadismo circense. Entretanto, as situações-limite vivida pelas pessoas que lá são acolhidas exigiu que tivéssemos um outro olhar”, explica Giampietro. Procurando aprofundar estudos que dessem conta da realidade encontrada no novo espaço – e também das contradições mais amplas da vida sob o capitalismo –, a companhia se aproximou do educador social Luís Scapi e do marxismo. “Isso mudou bastante a cara do grupo. Passamos a nos organizar da forma mais horizontal possível, procurando não mais reproduzir a divisão social do trabalho que estávamos criticando em cena”, afirma Giampietro.
Sem uma figura de diretor a centralizar a companhia, foi estabelecida uma estrutura radicalmente igualitária, em que todos pertencem ao núcleo artístico e também desempenham tarefas técnicas – que deixaram de ser terceirizadas, como é comum –, compartilhando igualmente os recursos obtidos. Os trabalhos passaram a ser divididos em núcleos – de direção, de dramaturgia ou de música, por exemplo –, podendo cada um deles ser coordenado por um parceiro de fora do grupo, convidado para um projeto específico.
Essas transformações tiveram como contrapartida cênica a peça Homem Cavalo & Sociedade Anônima, construída em conjunto com os moradores do Arsenal da Esperança e a partir de suas experiências. “As cenas de improvisação para criação da dramaturgia eram feitas com os moradores, de modo que eles interferiam nelas e até as dirigiam. Foi uma potência para nosso trabalho estético”, conta Andressa Ferrarezi.
A peça estabelece, a partir da fábula sobre um “homem cavalo” que o título menciona, um panorama da vida degradada pelo capitalismo avançado, em seus desdobramentos nas esferas do trabalho, moradia e consumo.
O projeto SobrePosições, que veio a seguir, deu continuidade ao trabalho do grupo no Arsenal da Esperança. “A ideia era tornar mais direta a relação com os acolhidos pelo Arsenal, de modo a criar um campo de interlocução mais produtivo”, define Daniela Giampietro. A trupe manteve os estudos sobre materialismo dialético e a exploração do trabalho, ao mesmo tempo que aprofundava a pesquisa em teatro épico.
Em 2010, foram ampliadas as oficinas de teatro no Arsenal, com duração de três meses – mas organizadas de tal modo que pudessem ser aproveitadas por pessoas que delas participassem durante um único dia; tal formato foi desenvolvido para dar conta da alta rotatividade de acolhidos.
Teatro e política
A busca por formas teatrais que pudessem materializar as contradições da realidade social levou o coletivo à peça A Exceção e a Regra, do teatrólogo alemão Bertolt Brecht. O texto esmiúça as relações entre empregado e padrão, este último envolvido em uma disputa pela concessão de uma área de exploração de petróleo, e o amparo que a opressão do trabalho encontra na esfera jurídica. “A partir do texto, fizemos um exercício com os acolhidos que gerou um debate profícuo”, lembra Giampietro.
O grupo decidiu encenar a peça, dividindo-se em dois núcleos, cada um com um diretor. A exigente dinâmica de trabalho gerou uma crise – e a saída de três integrantes. Em 2012, o coletivo se reorganizou, com a entrada de quatro novos membros. “O teatro de grupo é marcado pela precariedade. Todas essas dificuldades de sobrevivência dos grupos advêm desse quadro”, aponta Ferrarezi.
Permaneceu o trabalho com A Exceção e a Regra, embora muito transformado pelos influxos dos novos artistas. Ao mesmo tempo, nasceu o projeto Desterro – Poéticas Vermelhas, cuja dimensão política volta-se à questão da gentrificação na cidade de São Paulo – processo de especulação imobiliária por meio do qual áreas do território urbano tradicionalmente ocupadas por trabalhadores passam a ter preços mais altos, o que resulta na expulsão dos moradores tradicionais para regiões mais afastadas. “Em nosso dia a dia no Arsenal, percebemos os efeitos desse processo, já que convivemos com suas vítimas”, conta Giampietro.
Para lidar com o tema da gentrificação, o grupo procurou trabalhar com as doze formas do teatro de agitação e propaganda (agitprop) desenvolvidas no período da Revolução Russa (1917) e na Alemanha dos anos 1920 – gêneros como o jornal vivo, que se baseia na encenação de notícias, e o cabaré vermelho, que adapta a antiga forma de teatro musicado para tratar de assuntos revolucionários. A cada uma das formas corresponde uma cena, dirigida por um coordenador convidado.
O trabalho nasceu de um intercâmbio entre a Estável e grupos parceiros, que se uniram, no ano passado, para estudar as formas de agitprop e fazer exercícios com elas, partindo do tema das “Diretas Já”. “Temos uma relação permanente com diversos grupos de teatro contra-hegemônico, com os quais nos articulamos para lutas coletivas e desenvolvemos projetos paralelos”, explica Daniela Giampietro.
Há cerca de três anos, a Cia. Estável integra o Movimento de Teatro de Rua (MTR), instância de organização dos coletivos artísticos para debate e luta por políticas públicas, além de somar-se às diversas lutas do teatro de grupo paulista. “Desde que encenamos Homem Cavalo, também estreitamos os laços com o MST e movimentos de moradia”, conta Giampietro. O grupo, além disso, é pioneiro nas apresentações artísticas na fábrica ocupada Flaskô. Assim a Cia. Estável vai aprofundando sua perspectiva de trabalho crítico e coletivo – e ampliando para outros grupos seu horizonte de transformação social. (Saiba mais em: territorioestavel.blogspot.com)


Trecho final da peça Homem Cavalo & Sociedade Anônima
Junto com centenas de cavalos selvagens, o jovem homem livre galopava por campos verdes sentindo a brisa fria da aurora.
Nunca soube ser livre. Escolher caminhos era coisa nova. Mas, teve a sensação de ser muitos e a confiança de estar certo.
Em campo aberto, em mata virgem, em riacho limpo molhou o focinho, junto com os outros e chorava de alegria e prazer a cada galope.
Um grito humano, e não de cavalo, cortou os corações da tropa que avistou a primeira cerca de arame farpado.
Correram pra longe dali, queriam campos livres. Queriam campos livres e encontraram uma placa: proibido passar! Meia volta, e trotaram até um pedágio numa rodovia.
Fugiram desesperados, num galope forte cheio de suor e músculos. Correram e só pararam com o choque diante da enorme porteira de ferro. O homem cavalo percebeu que os campos livres estavam depois da cerca. Afastou-se e deu um coice na porteira como um soco de mãos grossas no rosto cínico do senhor doutor patrão. A porteira caiu, ensanguentada. Ergueu-se junto de outros sobre duas patas. Entendia mais das coisas. Não havia pra onde correr.
Ele não era um animal.

terça-feira, 16 de julho de 2013

cia. estável recebe buraco d'oráculo

Essa semana os parceiros do grupo Buraco d'Oráculo se apresentarão no Arsenal da Esperança com seu novo espetáculo Ópera do Trabalho.



Ópera do Trabalho, Buraco d'Oráculo
Dias 20 e 21 de Julho, 19h.
Arsenal da Esperança - Rua Dr. Almeida Lima, 900 - Estação Bresser-Mooca do metrô
Espetáculo Gratuito.
Informações: 98152-4483
Atenção: em caso de chuva, não haverá apresentação.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

nova temporada da exceção e a regra em sp


Temporada e apresentações:
05, 12, 19 e 26 de julho (Sextas-feira) às 16h.
Local: Praça da República, próximo ao Coreto.
Em caso de chuva não haverá apresentação.
Telefone: (11) 98121-6554 (Claro)

06 e 07 de julho (Sábado e domingo) às 19h.
Engenho Teatral - Endereço: Rua Monte Serrat, 230 - Clube escola do Tatuapé (Metrô Carrão) - São Paulo - SP
Telefones: (11) 2092 8865 – 98121-6554 (Claro)

http://engenhoteatral.wordpress.com/