quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Crítica do espetáculo A EXCEÇÃO E A REGRA

por Bruno Fracchia
Devido à chuva que caiu em Santos no último domingo, a apresentação de A Exceção e a Regra, com a Cia. Estável de Teatro, dentro da programação do FESTA57, foi transferida de um espaço ao ar livre para as dependências do Teatro Municipal Brás Cubas. A encenação de uma das peças didáticas de Bertolt Brecht em um ambiente de certa forma segmentado a artistas corre o risco de se tornar apenas um ensaio aberto. Mas o que ocorreu foi o ato teatral em sua totalidade. Estética, conteúdo e ideologia afinados. Um trabalho emocionante, pelo resultado estético e pela demonstração (sem palavras) da defesa de uma ideologia partilhada por todo da Cia.
O autor de peças como Mãe Coragem e Vida de Galileu não criou obras para servirem de documento histórico, mas sim de material de ação a agir por sua época. E desta forma sua peça foi defendida. Uma montagem viva, urgente, agente social junto a um público constituído por muitos jovens estudantes de teatro que pela primeira vez tinham contato com a dramaturgia de Brecht, posta em cena de forma estudada, respeitosa e responsável. Em cena, um coletivo, que partilha dos mesmos ideais. Todos em constante condição de um jogo cênico que também o público, desde o início, é convidado a jogar. Isso sim uma referência de prática de um Teatro Popular.
Embora soe injusto destaques individuais, simbolizando a recusa ao virtuosismo e o comprometimento com um desempenho a serviço do coletivo, cita-se a atriz Daniela Giampietro. Na função/personagem Juiz em suas outras intervenções, sem nada fazer para aparecer, em cena ela apresenta uma força diferente, garantindo-lhe um destaque que não a faz “roubar” a cena (algo incompatível com um trabalho como este), mas que deixa sua imagem em nossa memória. Uma atriz para se observar com bastante atenção.
Para se criar uma obra com tamanha qualidade, não há segredos. É trabalho e pesquisa. O grupo recebeu o olhar de Renata Zanetha (que assina a direção), criou um núcleo de direção musical e estudou a estética do Teatro de Rua e a obra de Bertolt Brecht com seu maior especialista no Brasil, Sérgio de Carvalho. Se um assunto nos envolve e queremos encená-lo com respeito ao público, não há outro caminho. Fica a mensagem.
Um lamento é feito: a impossibilidade de ter assistido a uma das 25 apresentações realizadas pelo grupo em estações da CPTM, em São Paulo. Se o impacto já foi imenso em uma apresentação nas condições descritas acima, imaginemos em espaços de alta movimentação como os das estações de trem e metrô de São Paulo. Que o retorno da Estável a Santos seja breve. Precisamos.
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