quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

poemas do s. argeu

O S. Argeu , num dia de ensaios antes do início do espetáculo , se aproximou e ficou observando.
Assistiu à apresentação e chorou.
Voltou diversas vezes. Virou parte do que compõe o espetáculo. Cantava, torcia, chorava, comentava...
Só que nós, já a esta altura, não o encarávamos mais durante a peça: poríamos tudo a perder, tomados pela emoção.

Agora o S. Argeu participa da oficina de escrita com o Maurício Hiroshi, dentro do projeto Vagar...
Estes são os poemas que ele produziu recentemente, a partir do espetáculo.

Entenda então o motivo de não mais encararmos aqueles olhos verde-rasteiro por trás do bigode-Leôncio:


Poema sobre a peça “Homem Cavalo & a Sociedade Anônima”

Sociedade anônima,

Que vive de mão em mão,

Controlada por mão de Dinheiro

Assim roda como pião,

Dominado pelo fazendeiro.

O forte usa o fracassado,

Pois, aquele que tem dinheiro

Você obedece e fica calado.

Faz do anônimo substituto de animal,

carregando nas costas seu peso Bruto

entre vento, chuva, temporal,

Ele tem que ser matuto.

Tornou-se então um Homem Cavalo,

Dominado pela mão do dinheiro

Sua vida então,

num estalo,

está na mão do fazendeiro.

Qual o preço do seu suor

derramado em seu rosto cavalo?

Qual o valor de seu dono,

Que sem dó,

Lhe faz trabalhar até no intervalo,?

Usando rédeas e viseira

para mais além guia.

E assim vai sendo guiado

pelo cavaleiro- e este

usufruindo da força que tem.

Cinco laranjas é o que vale

A força do coitado?

Pois com sua força bruta, ele foi aproveitado.

Subistituindo um cavalo puxador

Caminha assim a sociedade anônima,

Como um pendolo balança nas mãos

De quem controla.

Mas se deixarmos o anonimato

Desta gente não precisaremos de esmola.

(Argeu)

São Paulo,14/11/2008



Meu berço de ouro meu irmão sem cobertor


Tudo para mim era festa

em qualquer momento.

Tudo era canção,

Tinha até cantiga de ninar.

Mas e o pobre do meu irmão, não tinha festa nem cama para deitar.

Para ele um chão gelado, e a velha colcha de retalhos em volta do corpo.

E vendo aquilo meus braços não queria descruzar.

Para mim era o sol mais belo a vista do horizonte

Era um vento que assoviava em torno dos meus ouvidos, suave.

Mas ao pobre do meu irmão,

Encarar um sol ardente e sua vida sem um horizonte,

um vento triste barulhento e destruidor.

Mesmo assim os meus braços eu cruzei.

Tinha chuva no telhado,

era calma e serena, como

cantiga de ninar.

E ao coitado do meu irmão,

vinha a chuva mais pesada,

fazendo lama pelo chão.

Como posso ter vida tão tranqüila, se fechei meu coração?

Como posso ter sono sossegado, se meus braços eu cruzei?

Como serei mais feliz, se ao pobre meu irmão,

Minha mão não se estendeu?

Como posso esquecer do dia que meu braço não descruzou.



Obrigado S. Argeu.


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