segunda-feira, 12 de maio de 2008

nós vagando


O ano é de 2005 e lá estamos: laços desfeitos e territórios desestabilizados. O nome do grupo parece sorrir maliciosamente cada vez que é pronunciado: Companhia Estável! Se não fôssemos de teatro... quem sabe?

E foi assim, vagando com pernas e idéias imprecisas que se deu o encontro entre estes dois coletivos: um grupo de atores e um grupo de desabrigados.

Nosso objetivo de pesquisa? Aproximadamente mil cento e cinqüenta homens vindos de muitos cantos por motivos e com objetivos variados.

Tratar do indivíduo? Como?!

Recontar uma história? Qual?!

Descobrimos que teríamos que tratar do coletivo, mas que coletivo seria este afinal? O que une esta multidão aparentemente dispersa além do espaço geográfico onde dormem? E mais, o que nos une a ela? Que coletivo somos nós?

Algum tempo de trabalho e as contradições aparecem erguendo seus gigan(dan)tescos cenários de céus e infernos.

Pesquisas, oficinas, capacitações e o objeto escapa.

Debates, palestras, discussões e o objeto escapa.

Nossos olhinhos pequeno burgueses se negam a enxergar o que está bem debaixo do nariz: um lugar bonitinho com bancos, capelas, árvores e passarinhos que abriga a face mais podre, doentia e cruel da desigualdade humana. A materialização da psicose de uma sociedade que pouco se importa e nada faz. A reprodução de um sistema escravocrata que sobrevive gerando lucros de um lado e fome do outro.

No grupo confusão, decepção, inércia e crise na busca por uma linguagem sem perfumes, nem entorpecentes e que mantenha a platéia no claro, desperta e olhando com seus próprios olhos o que não é fácil e nem bonito de se contar.

Daniela Giampietro,

Cia. Estável de Teatro

Março, 2008.

2 comentários:

Jac disse...

Texto genial, Dani. Uma pena eu só tê-lo lido agora.

Admiro - SEMPRE - o trabalho de vocês, mesmo à distância.

Beijos com muito carinho e admiração,

Jac

Sidney Nunes disse...

Sou suspeito pra falar do texto ou do trabalho, principalmente quando se está envolvido de alguma forma com ele, também por admirar e respeitar as pessoas que participam deste projeto. O texto é mais uma das várias qualidades suas; objetivo e bem escrito. Com carinho,

Sidney.