sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

as estrelas fogem de bangladesh - por andressa em viagem


Bangladesh não tem céu. Me parece também que as estrelas poliglotas são capazes de se comunicar com a união européia, mas com Blagladesh não. No velho mundo a lua fica cheia de si, se droga e até se aproxima um pouco mais da terra, só não pode iluminar o que está negro, ou com olhos rasgados ou perto disso. Isso tudo porque em Bangladesh não tem céu e também não na China, nem no Senegal.
Os filhos natos, cor de café fraco, substituem os pequenos distantes pontinhos prateados por rosas, e elas são vermelhas. E como não tem céu, os olhos se acostumaram e é quase impossível enchegar o rubro reflexo das latinhas de cerveja à venda nas calles por alguns míseros euros, na madrugada.
Aliás essa cor, vermelha - roja - se vê muito, mas nas lindas saias flamencas, nas camisetas de vendedores de pipocas romanas, nos mantos dos extintos toureiros que esbanjam babados estelares. Assim os turistas são capazes de enchergar constelações inteiras (e sempre pagam por elas) como as de Miró, que perdem o verdadeiro sentido trancadas nas salas climatizadas do seu museo. Elas me suplicaram o resgate, queriam ver o céu, mas eu era pequenina, demasiadamente ruborizada, não pude fazer nada, nem uma foto.
Cada pedacinho de azulejo do Gaudí é uma estrela roubada dos céus que deveriam existir. Cada degrau para se ver o Montijuic, e quantos são, foram roubados de Bangladesh para não se chegar ao céu. E todos estavam tão ocupados em discutir a política emergente da America do Sul que não poderiam lembrar que a cerca Dalí, não tem céu. Ora vejam só, que surpresa, o céu do Brasil anda brilhando tão intensamente, num vermelho amalgamado com azul, que de lá, onde tem o céu do Olimpo, é possível acreditar que estamos trocando as estrelas por delicadas violetas, como nunca se viu antes por essas terras. E as ciências políticas voam por mais de dez horas para saber como é que se faz. Mas tem ojeriza em fazer escala ou conexão na Venezuela. Pois se um céu brilha vermelho é certamente o teto do inferno.
Balela! Dizia eu, e passei por feminista revolucionariazinha (não que eu não seja) que pensa que é possível mudar o mundo. E todos riam e minhas estrelas se apagaram por alguns instantes, mas como é dever da arte comunicar, apesar disso me causar conflitos: oxalá que voltem a brilhar em Bangladesh.

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