Sobre a experiência criativa de um grupo de teatro dentro de uma casa de acolhida para homens.
Por Osvaldo Hortencio
Ator da Cia. Estável de Teatro.
Pisar o chão
Que fazer do teatro que me cabe nas mãos? Buscar outras terras, territórios não ficcionais, para fornecer alimento para a cabeça nossa de trabalhador-artista!
Não, não é de pesquisa teatral, apartada, que falo. Falo da vida. Do teatro que olha e se interessa pela vida e, por isso, se torna pesquisa. Necessariamente nesta ordem. Pisar o chão para depois saber qual instrumento devo usar para tratar deste solo. Quando pisamos o chão Arsenal da Esperança, tínhamos os olhos atentos aos movimentos transeuntes desses desterritorializados. Cerca de 1150 homens lidando coma as faltas. Uma ânsia por entender a construção histórica que os levara até aquele lugar, o que os definia, o que nos irmanava. Também uma porção de ingenuidades e tolices nossas, pequeno-burgueses.
Sempre optamos por lidar assim: chegar, saber quem são e, um tanto entendido, escolher as cartas para o jogo. Do último jogo que propusemos, nasceu o Homem Cavalo & Sociedade Anônima, esta nossa cria que relincha duro sobre a exploração no trabalho, sobre consumismo e outras mazelas nossas.
Daí, voltando ao chão pisado, os outros pés que por lá passam se reconheceram e somaram conosco. Dá pra ser diferente? Se o teatro não se propõe inatingível, obra do dom e do talento de privilegiados, pode ser terreno de discussões e criações mais pertinentes.
Este Homem cavalo... foi criado após dois anos de residência artística na casa de acolhida Arsenal da Esperança, dentro do projeto Vagar não é preciso, contemplado pela Lei de Fomento ao teatro para a cidade de São Paulo.
Da metáfora do casco, das faltas que nos fazem vagar, seguimos inquietos percebendo o chão sob nossos pés, mas sem tirar os olhos dos que andam conosco. Nos cascos, solados ou descalços.
Fica então uma canção criada deste solo:
Maria batia a panela vazia
Mexendo a comida que não existia
João reclamava um pedaço de chão
Riscando o asfalto com um giz na mão
E eu com um passo ferrado no casco
Sou cascalho, barulho de uma multidão
Que fazer do teatro que me cabe nas mãos? Buscar outras terras, territórios não ficcionais, para fornecer alimento para a cabeça nossa de trabalhador-artista!
Não, não é de pesquisa teatral, apartada, que falo. Falo da vida. Do teatro que olha e se interessa pela vida e, por isso, se torna pesquisa. Necessariamente nesta ordem. Pisar o chão para depois saber qual instrumento devo usar para tratar deste solo. Quando pisamos o chão Arsenal da Esperança, tínhamos os olhos atentos aos movimentos transeuntes desses desterritorializados. Cerca de 1150 homens lidando coma as faltas. Uma ânsia por entender a construção histórica que os levara até aquele lugar, o que os definia, o que nos irmanava. Também uma porção de ingenuidades e tolices nossas, pequeno-burgueses.
Sempre optamos por lidar assim: chegar, saber quem são e, um tanto entendido, escolher as cartas para o jogo. Do último jogo que propusemos, nasceu o Homem Cavalo & Sociedade Anônima, esta nossa cria que relincha duro sobre a exploração no trabalho, sobre consumismo e outras mazelas nossas.
Daí, voltando ao chão pisado, os outros pés que por lá passam se reconheceram e somaram conosco. Dá pra ser diferente? Se o teatro não se propõe inatingível, obra do dom e do talento de privilegiados, pode ser terreno de discussões e criações mais pertinentes.
Este Homem cavalo... foi criado após dois anos de residência artística na casa de acolhida Arsenal da Esperança, dentro do projeto Vagar não é preciso, contemplado pela Lei de Fomento ao teatro para a cidade de São Paulo.
Da metáfora do casco, das faltas que nos fazem vagar, seguimos inquietos percebendo o chão sob nossos pés, mas sem tirar os olhos dos que andam conosco. Nos cascos, solados ou descalços.
Fica então uma canção criada deste solo:
Maria batia a panela vazia
Mexendo a comida que não existia
João reclamava um pedaço de chão
Riscando o asfalto com um giz na mão
E eu com um passo ferrado no casco
Sou cascalho, barulho de uma multidão
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