Fotos de Paulo Arcuri
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
apresentações do auto do circo
Para fechar o ano!
O AUTO DO CIRCO
dias 18, 19, 20 e 21
Sempre às 20h
GRÁTIS
Em dias de chuva não haverá espetáculo.
Duração: 110 min.
Classificação:14 anos.
Local: Arsenal da Esperança
Endereço: Rua Dr. Almeida Lima, 900 – Brás (próximo a estação Bresser-Mooca do metrô)
Lotação: 50 lugares
Informações e reservas:
(11) 8708-9563
(11) 8121-0870
as reservas serão garantidas até 30 min. antes do início do espetáculo.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
para uma publicação do grupo do trecho
Sobre a experiência criativa de um grupo de teatro dentro de uma casa de acolhida para homens.
Por Osvaldo Hortencio
Ator da Cia. Estável de Teatro.
Pisar o chão
Que fazer do teatro que me cabe nas mãos? Buscar outras terras, territórios não ficcionais, para fornecer alimento para a cabeça nossa de trabalhador-artista!
Não, não é de pesquisa teatral, apartada, que falo. Falo da vida. Do teatro que olha e se interessa pela vida e, por isso, se torna pesquisa. Necessariamente nesta ordem. Pisar o chão para depois saber qual instrumento devo usar para tratar deste solo. Quando pisamos o chão Arsenal da Esperança, tínhamos os olhos atentos aos movimentos transeuntes desses desterritorializados. Cerca de 1150 homens lidando coma as faltas. Uma ânsia por entender a construção histórica que os levara até aquele lugar, o que os definia, o que nos irmanava. Também uma porção de ingenuidades e tolices nossas, pequeno-burgueses.
Sempre optamos por lidar assim: chegar, saber quem são e, um tanto entendido, escolher as cartas para o jogo. Do último jogo que propusemos, nasceu o Homem Cavalo & Sociedade Anônima, esta nossa cria que relincha duro sobre a exploração no trabalho, sobre consumismo e outras mazelas nossas.
Daí, voltando ao chão pisado, os outros pés que por lá passam se reconheceram e somaram conosco. Dá pra ser diferente? Se o teatro não se propõe inatingível, obra do dom e do talento de privilegiados, pode ser terreno de discussões e criações mais pertinentes.
Este Homem cavalo... foi criado após dois anos de residência artística na casa de acolhida Arsenal da Esperança, dentro do projeto Vagar não é preciso, contemplado pela Lei de Fomento ao teatro para a cidade de São Paulo.
Da metáfora do casco, das faltas que nos fazem vagar, seguimos inquietos percebendo o chão sob nossos pés, mas sem tirar os olhos dos que andam conosco. Nos cascos, solados ou descalços.
Fica então uma canção criada deste solo:
Maria batia a panela vazia
Mexendo a comida que não existia
João reclamava um pedaço de chão
Riscando o asfalto com um giz na mão
E eu com um passo ferrado no casco
Sou cascalho, barulho de uma multidão
Que fazer do teatro que me cabe nas mãos? Buscar outras terras, territórios não ficcionais, para fornecer alimento para a cabeça nossa de trabalhador-artista!
Não, não é de pesquisa teatral, apartada, que falo. Falo da vida. Do teatro que olha e se interessa pela vida e, por isso, se torna pesquisa. Necessariamente nesta ordem. Pisar o chão para depois saber qual instrumento devo usar para tratar deste solo. Quando pisamos o chão Arsenal da Esperança, tínhamos os olhos atentos aos movimentos transeuntes desses desterritorializados. Cerca de 1150 homens lidando coma as faltas. Uma ânsia por entender a construção histórica que os levara até aquele lugar, o que os definia, o que nos irmanava. Também uma porção de ingenuidades e tolices nossas, pequeno-burgueses.
Sempre optamos por lidar assim: chegar, saber quem são e, um tanto entendido, escolher as cartas para o jogo. Do último jogo que propusemos, nasceu o Homem Cavalo & Sociedade Anônima, esta nossa cria que relincha duro sobre a exploração no trabalho, sobre consumismo e outras mazelas nossas.
Daí, voltando ao chão pisado, os outros pés que por lá passam se reconheceram e somaram conosco. Dá pra ser diferente? Se o teatro não se propõe inatingível, obra do dom e do talento de privilegiados, pode ser terreno de discussões e criações mais pertinentes.
Este Homem cavalo... foi criado após dois anos de residência artística na casa de acolhida Arsenal da Esperança, dentro do projeto Vagar não é preciso, contemplado pela Lei de Fomento ao teatro para a cidade de São Paulo.
Da metáfora do casco, das faltas que nos fazem vagar, seguimos inquietos percebendo o chão sob nossos pés, mas sem tirar os olhos dos que andam conosco. Nos cascos, solados ou descalços.
Fica então uma canção criada deste solo:
Maria batia a panela vazia
Mexendo a comida que não existia
João reclamava um pedaço de chão
Riscando o asfalto com um giz na mão
E eu com um passo ferrado no casco
Sou cascalho, barulho de uma multidão
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
alguns focos de incêndio - carolina nóbrega, grupo do trecho
Fui assistir à Homem Cavalo & Sociedade Anônima da Cia. Estável. Uma peça criada e apresentada num albergue público, o Arsenal da Esperança. Uma peça num albergue... descrição primeira que poderia ser a mesma ao trabalho do Trecho agora e no ano passado e que também poderia ser a mesma ao trabalho da Cia São Jorge em As Bastianas...
O espetáculo propõe uma linguagem absolutamente distinta da nossa, mas estar diante daquele elenco, em movimento naquele espaço, me fez ter uma sensação muito potente de que existe uma inquietação compartilhada, que está reverberando de maneiras distintas em uma série de locais e pessoas. O percurso que levou a Estável até aquele lugar é absolutamente diverso do Trecho que é também absolutamente diverso da São Jorge... entretanto, essa mesma vontade, a de atravessar fronteiras institucionais e de sair do espaço "autorizado" do teatro nos espelha. Para além do interesse específico em uma arte que evada a sala de teatro, há essa proposta de criar em relação, há essa necessidade de buscar encontros e de encontrar um olhar menos permeado pelos limites institucionais.
Esses três exemplos que coloquei acima são apenas alguns dentre muitas outras propostas e experiências desenvolvidas em diversos lugares do Brasil e do exterior.
Fui assistir à Homem Cavalo & Sociedade Anônima da Cia. Estável e saí revigorada... fortalecida... sentindo que existe, para além de minha iniciativa pessoal, um movimento acontecendo, que me parece uma reação comum... uma mesma rejeição às imposições espaciais e, logo, relacionais da estrutura social. E esse movimento novo e velho (por estar repleto de experiências já desenvolvidas no passado), essa nova tradução de intervenção, parece quase que ainda nem ter os termos de análise desenvolvidos... está ocupando mais o lugar da indagação do que da lapidação do já consolidado... abrindo um universo de possibilidades...
O que cada um desses trabalhos gera está, claramente, bem localizado... mas as propostas são tantas, são tantos os pequeninos focos de incêndio, que talvez, e vejam, talvez, estejamos diante de um possível descongelamento...
fonte: http://grupodotrecho.blogspot.com/
O espetáculo propõe uma linguagem absolutamente distinta da nossa, mas estar diante daquele elenco, em movimento naquele espaço, me fez ter uma sensação muito potente de que existe uma inquietação compartilhada, que está reverberando de maneiras distintas em uma série de locais e pessoas. O percurso que levou a Estável até aquele lugar é absolutamente diverso do Trecho que é também absolutamente diverso da São Jorge... entretanto, essa mesma vontade, a de atravessar fronteiras institucionais e de sair do espaço "autorizado" do teatro nos espelha. Para além do interesse específico em uma arte que evada a sala de teatro, há essa proposta de criar em relação, há essa necessidade de buscar encontros e de encontrar um olhar menos permeado pelos limites institucionais.
Esses três exemplos que coloquei acima são apenas alguns dentre muitas outras propostas e experiências desenvolvidas em diversos lugares do Brasil e do exterior.
Fui assistir à Homem Cavalo & Sociedade Anônima da Cia. Estável e saí revigorada... fortalecida... sentindo que existe, para além de minha iniciativa pessoal, um movimento acontecendo, que me parece uma reação comum... uma mesma rejeição às imposições espaciais e, logo, relacionais da estrutura social. E esse movimento novo e velho (por estar repleto de experiências já desenvolvidas no passado), essa nova tradução de intervenção, parece quase que ainda nem ter os termos de análise desenvolvidos... está ocupando mais o lugar da indagação do que da lapidação do já consolidado... abrindo um universo de possibilidades...
O que cada um desses trabalhos gera está, claramente, bem localizado... mas as propostas são tantas, são tantos os pequeninos focos de incêndio, que talvez, e vejam, talvez, estejamos diante de um possível descongelamento...
fonte: http://grupodotrecho.blogspot.com/
poemas do s. argeu
O S. Argeu , num dia de ensaios antes do início do espetáculo , se aproximou e ficou observando.
Assistiu à apresentação e chorou.
Voltou diversas vezes. Virou parte do que compõe o espetáculo. Cantava, torcia, chorava, comentava...
Só que nós, já a esta altura, não o encarávamos mais durante a peça: poríamos tudo a perder, tomados pela emoção.
Agora o S. Argeu participa da oficina de escrita com o Maurício Hiroshi, dentro do projeto Vagar...
Estes são os poemas que ele produziu recentemente, a partir do espetáculo.
Entenda então o motivo de não mais encararmos aqueles olhos verde-rasteiro por trás do bigode-Leôncio:
Assistiu à apresentação e chorou.
Voltou diversas vezes. Virou parte do que compõe o espetáculo. Cantava, torcia, chorava, comentava...
Só que nós, já a esta altura, não o encarávamos mais durante a peça: poríamos tudo a perder, tomados pela emoção.
Agora o S. Argeu participa da oficina de escrita com o Maurício Hiroshi, dentro do projeto Vagar...
Estes são os poemas que ele produziu recentemente, a partir do espetáculo.
Entenda então o motivo de não mais encararmos aqueles olhos verde-rasteiro por trás do bigode-Leôncio:
Poema sobre a peça “Homem Cavalo & a Sociedade Anônima”
Sociedade anônima,
Que vive de mão em mão,
Controlada por mão de Dinheiro
Assim roda como pião,
Dominado pelo fazendeiro.
O forte usa o fracassado,
Pois, aquele que tem dinheiro
Você obedece e fica calado.
Faz do anônimo substituto de animal,
carregando nas costas seu peso Bruto
entre vento, chuva, temporal,
Ele tem que ser matuto.
Tornou-se então um Homem Cavalo,
Dominado pela mão do dinheiro
Sua vida então,
num estalo,
está na mão do fazendeiro.
Qual o preço do seu suor
derramado em seu rosto cavalo?
Qual o valor de seu dono,
Que sem dó,
Lhe faz trabalhar até no intervalo,?
Usando rédeas e viseira
para mais além guia.
E assim vai sendo guiado
pelo cavaleiro- e este
usufruindo da força que tem.
Cinco laranjas é o que vale
A força do coitado?
Pois com sua força bruta, ele foi aproveitado.
Subistituindo um cavalo puxador
Caminha assim a sociedade anônima,
Como um pendolo balança nas mãos
De quem controla.
Mas se deixarmos o anonimato
Desta gente não precisaremos de esmola.
(Argeu)
São Paulo,14/11/2008
Sociedade anônima,
Que vive de mão em mão,
Controlada por mão de Dinheiro
Assim roda como pião,
Dominado pelo fazendeiro.
O forte usa o fracassado,
Pois, aquele que tem dinheiro
Você obedece e fica calado.
Faz do anônimo substituto de animal,
carregando nas costas seu peso Bruto
entre vento, chuva, temporal,
Ele tem que ser matuto.
Tornou-se então um Homem Cavalo,
Dominado pela mão do dinheiro
Sua vida então,
num estalo,
está na mão do fazendeiro.
Qual o preço do seu suor
derramado em seu rosto cavalo?
Qual o valor de seu dono,
Que sem dó,
Lhe faz trabalhar até no intervalo,?
Usando rédeas e viseira
para mais além guia.
E assim vai sendo guiado
pelo cavaleiro- e este
usufruindo da força que tem.
Cinco laranjas é o que vale
A força do coitado?
Pois com sua força bruta, ele foi aproveitado.
Subistituindo um cavalo puxador
Caminha assim a sociedade anônima,
Como um pendolo balança nas mãos
De quem controla.
Mas se deixarmos o anonimato
Desta gente não precisaremos de esmola.
(Argeu)
São Paulo,14/11/2008
Meu berço de ouro meu irmão sem cobertor
Tudo para mim era festa
em qualquer momento.
Tudo era canção,
Tinha até cantiga de ninar.
Mas e o pobre do meu irmão, não tinha festa nem cama para deitar.
Para ele um chão gelado, e a velha colcha de retalhos em volta do corpo.
E vendo aquilo meus braços não queria descruzar.
Para mim era o sol mais belo a vista do horizonte
Era um vento que assoviava em torno dos meus ouvidos, suave.
Mas ao pobre do meu irmão,
Encarar um sol ardente e sua vida sem um horizonte,
um vento triste barulhento e destruidor.
Mesmo assim os meus braços eu cruzei.
Tinha chuva no telhado,
era calma e serena, como
cantiga de ninar.
E ao coitado do meu irmão,
vinha a chuva mais pesada,
fazendo lama pelo chão.
Como posso ter vida tão tranqüila, se fechei meu coração?
Como posso ter sono sossegado, se meus braços eu cruzei?
Como serei mais feliz, se ao pobre meu irmão,
Minha mão não se estendeu?
Como posso esquecer do dia que meu braço não descruzou.
Obrigado S. Argeu.
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